Legado: a transcendência do eu

Como podemos caracterizar uma vida bem aproveitada? Há critérios variados, que irão de acordo com o funcionamento social e pessoal de cada indivíduo. Contudo, há, afirmando com modéstia, alguns aspectos indispensáveis para que uma vida seja e contenha boas obras.
Honestidade é fundamental para se ter uma obra. Mas não é uma confiança total em tudo e todos, entregando-se de mão beijada a tudo que aparece. Honestidade no sentido de se ter consciência de si, os defeitos e qualidades próprios e também alheios. Através disso, aprender a se desenvolver e construir obras a partir das habilidades próprias e adquiridas. Ser capaz de reconhecer a si e ao próximo e admitir que todos são valiosos. Através dessa sensibilidade que nascem obras significativas, e que muitas vezes não ficam presas a um indivíduo. Este seria, então, o primeiro passo. Ao mesmo tempo que um exercício contínuo.
A obra não ser limitada a um indivíduo é fundamental, pois assim ela perpetua, ela dura, transcende seu criador, é lembrada e reproduzida por longos e longos anos. O que chamam de legado. E, mesmo que muitos não têm consciência de que querem um legado, para cada ação que fazemos, desejamos que ela tenha consequências positivas não só a curto prazo, mas também a longo. Isso significa que sim, almeja-se legados ao se iniciar uma obra. Ter consciência disso também é fundamental, e é, pode-se dizer, o segundo passo.
Com toda essa sensibilidade, há de se reconhecer o que é viável e o que não é. Chega-se a hora das escolhas, e são elas que determinam os rumos de cada vida. E, nestes momentos, não basta visar apenas em um objetivo, e sim em toda uma conjuntura de vida. Cada obra feita por um indivíduo, que na verdade não pertence só a ele, faz parte de sua vida, seja ela profissional, social, pessoal... O que for. Faz parte dela. Ou seja, deve-se medir as consequências dos atos, mas também a capacidade de se fazê-los. Agir de acordo com as capacidades e não superestimar/apressar as coisas seria o terceiro passo. E, novamente, mais um exercício contínuo.
De nada vale uma obra se ela não tem reconhecimento do autor. Em outras palavras, ele ou ela tem que ser capaz de conhecê-la todas as vezes que a visualizar, seja física ou mentalmente. Isso implica não só nas competências que já foram citadas como também no prazer, estímulo ou reconhecimento alheio que a obra tem. Se a obra não for desejada pelo criador, quem a desejará? Só quem não absorver a falta de intenções dele ao se fazer aquilo. O empenho só se dá com um objetivo em mente, mesmo que ele seja pequeno ou medíocre para muitos, ou até mesmo irrelevante. O que importa é que, de alguma maneira, aquilo tenha algum significado. Tanto o filme “Eu Maior” quanto o livro de Cortella “Qual é a tua obra” citam não só esses pensamentos com outras palavras e intenções, como também valorizam a importância de sentido nas obras.
Assim sendo, cada um de nós dá um significado a nossas obras e a nossa própria existência, o conjunto de obras. E como ele se forma? Descobrir o sentido nas obras é o um dos passos fundamentais, mesmo que ele mude com o tempo, e não é necessariamente o primeiro nem o último, pois, justamente por ser volátil, está em constante mudança. É o volante de nossas vidas, mas que não é controlado apenas por nós. Devemos assumir parte dele, mas também exigir para que os elementos exteriores não sejam tão adversos. Para isso que temos conquistado direitos de cidadania e democráticos, além de ser importante a admissão do próximo como alguém importante. Quando a comunidade está com alguém, é garantia de que a obra se construa e sustente, seja conhecida, reconhecida e renovada. E, acima de tudo, tenha valor. As obras, ao transcenderem, passam do simples horizonte de eventos, a eterna inércia, e possibilitam a manutenção e memória de uma vida bem aproveitada.
Tebaldi
Turma 2001-A
Janeiro de 2016

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